MENU

domingo, 12 de agosto de 2012

Carta Aberta - Carta de Renúncia


CARTA ABERTA

Repensar a representação estudantil, no campus, na universidade, no Brasil

A CRIAÇÃO DIRETÓRIO ACADÊMICO DA UFABC-SBC

Há cerca de 1 ano, motivados pelo aparente abandono do campus de São Bernardo do Campo (SBC) pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) e pela inatividade do CA do BCH (que naquele momento era enxergado como uma entidade representativa de todo o campus), alguns estudantes começaram a articular a criação de uma entidade estudantil local, que buscasse atender aos interesses dos discentes do campus de SBC da Universidade Federal do ABC (UFABC). Este grupo logo se expandiu e logo eu também estava participando de suas discussões, ainda desorganizadas e dispersas, mas que logo ganharam corpo, organização e que resultariam, após assembléias, na criação do Diretório Acadêmico (DA) Sigma.
Após ter participado de todo o processo de criação resolvi criar uma chapa, a chapa Raiz, onde toda a diversidade de alunos do campus de SBC estivesse representada, busquei alunas e alunos do BCT, do BCH, dos cursos pós BI, dos diversos grupos de afinidade já estabelecidos (esportivo, cultural, etc.), e cheguei a um total de 25 adeptos. Lembro-me que fui criticado por alguns amigos pela composição da chapa, visto que eu abdiquei de criar uma chapa ideológica, ou uma chapa de amigos, mas mantive minha convicção de que a diversidade do campus deveria ser representada na possível primeira gestão do DA de SBC.
Infelizmente a chapa Raiz foi a única candidata na primeira eleição do DA (uma outra chapa, encabeçada pelo discente Silas Leite, não se viabilizou por não conseguir o número mínimo de componentes definido no estatuto do DA, que é de 7), o que tornou o processo eleitoral algo não mobilizante, sem debates que adiantassem as expectativas e necessidades do campus SBC. Em 01/12/2012, com 165 votos de um total de 184 votos (19 votos em braço ou nulos), foi eleita a chapa Raiz para a primeira gestão do DA, e eu seria o primeiro Presidente.

Hoje, 12/08/2012, eu renuncio ao cargo de Presidente. Renuncio por acreditar que tenho agora que me concentrar em meu filho, que está por nascer nos próximos dias, e em minha esposa, que precisará que eu esteja mais presente.

Porém, neste último momento dedicado ao DA Sigma, eu gostaria de compartilhar, para quem sabe jogar as sementes de futuros debates, pensamentos advindos  das experiências que a função de presidente me proporcionou.

A GREVE E OS CONSELHOS

Quando bradei na assembléia (após um sonoro porra) para que os alunos mantivessem o senso crítico eu antecipava os diversos usos oportunistas que tal greve teria (e eu apelo novamente ao senso crítico de todos para que os enxerguem). Continuo favorável à greve, é preciso que isso fique claro, porém o mesmo senso crítico que pedi me faz ver que os alunos serão massivamente prejudicados pelo corporativismo dos professores no período pós-greve. Muito foi dito sobre pauta local, pauta dos estudantes, mas muito pouco foi efetivamente feito. Vejo que estamos perdendo a oportunidade de ter como bandeira a única pauta que efetivamente fará diferença para os estudantes no período pós greve: Equilíbrio nos conselhos e comissões universitárias. Serão os conselhos e comissões que definirão o que será feito no período pós-greve, e estes hoje são compostos majoritariamente por professores, de forma que o interesse destes está sempre garantido, em contrapartida aos interesses dos funcionários e alunos. Atualmente, para exemplificar, em um universo de 40 a 60 votos, os estudantes e funcionários têm 2 ou no máximo 4 votos cada um nos conselho e comissões da universidade. Esta disparidade faz com que o corporativismo reine e que, obviamente, os interesses dos professores se imponham em detrimento dos demais. Não estou falando aqui em paridade, uma utopia idiota utilizada como propaganda na UNE e congêneres, estou falando de equilíbrio. É natural que os professores sejam maioria, até porque muitos ocupam também funções administrativas, mas não é natural que somente as suas vozes tenham relevância nos debates universitários. Uma divisão da composição dos conselhos e comissões onde 50% dos votos fossem dos professores, 25% dos funcionários e 25% dos alunos, a meu ver, traria o equilíbrio necessário para que nenhuma vontade fosse imposta.
Talvez seja tarde para que isto aconteça já no período pós-greve (no qual não tenho a mínima dúvida de que os alunos serão prejudicados em detrimento do interesse dos professores), mas não é tarde para que o nosso comando de greve, nossas entidades representativas (DCE e DA) e nossos conselheiros façam com que esta greve também traga benefícios reais e duradouros para o corpo discente de nossa universidade, do contrário será uma greve legítima, mas da qual só os alunos sairão prejudicados.    

UNE, UEE, ANEEL

A política além dos muros das universidades é sim importante, certamente não estou do lado daqueles que advogam por uma postura “apolítica” das representações estudantis (como se isso fosse possível!), porém vejo que os atuais grupos organizados (de situação e de oposição) dentro da UNE, UEE e ANEEL nada mais são do que extensão de partidos políticos, são grupos que se comportam como se fossem torcidas organizadas e que, desta forma, estão sempre muito comprometidos ideologicamente e passionalmente para terem discernimento e independência para tomarem as decisões e encamparem as posturas do que gostaríamos de chamar de movimento estudantil. Tais grupos não têm projetos para os estudantes ou para as universidades, esses grupos têm apenas projeto de poder, onde ocupar o maior número possível de DCE’s, DA’s e CA’s representam um maior número de delegados votantes (e eventualmente de verba para suas ações político-partidárias), delegados estes que são fundamentais para se chagar ao poder na UNE e congêneres. 
Neste momento temos um grupo que detém o controle da UNE e da UEE, e este grupo já enxerga a UFABC como mais um voto precioso para a manutenção de seu projeto de poder nas instituições supracitadas, assim como também temos a oposição, que inclusive já geriu nosso DCE, que também precisa se expandir para brigar contra a hegemonia do grupo rival.  
As eleições para o DCE e o DA se aproximam e é preciso que os alunos da UFABC tenham discernimento para entender quais são os interesses que estarão por trás de cada campanha. Eu ainda acredito que os grupos independentes, não os “apolíticos”, são o melhor caminho, o problema é que os independentes muitas vezes preferem se abster do processo político da universidade, se escondendo na retórica (exposta em redes sociais) e evitando a prática.

O DCE

Para começo de conversa é preciso esclarecer que não estou falando de gestões (nem da atual, nem da anterior, nem da próxima), estou falando da estrutura de representação estudantil, a qual acredito que precisa ser repensada. Dito isto… 
O DCE é um CA de BC&T ou no máximo um DA de SA. Nada mais natural, visto que o DCE nasceu em uma universidade de campus único, visto que quando SBC nasceu com seus 400 alunos SA já tinha mais de 2 mil alunos, visto os discentes de BC&T de SA estão muito longe dos problemas do dia-a-dia dos discentes de BC&T e BC&H de SBC (problemas estes que não são conhecidos com uma aula ou outra no campus de SBC).
SA precisa de uma representação que pense os problemas de seu campus, e esta função foi naturalmente assumida pelo DCE, o problema é que a universidade se tornou multicampi e o DCE não. O problema é que o DCE, para ser Diretório Central, precisa ter uma melhor compreensão da universidade como um todo e não uma compreensão limitada que tem como única referência SA e o BC&T (de SA).
Talvez em um ou dois anos tenhamos mais um campus, o de Mauá, e este problema de representação se agravará, a não ser que comecemos a pensar em uma solução desde agora.
O que eu penso:
SA precisa de um DA, ou o DCE sempre assumirá esta função, assim como Mauá precisará de um DA, assim como SBC precisa de um DA. O DCE, para ser DCE, precisa funcionar como um colegiado dos representantes eleitos em seus campi, desta forma trabalharia por todos e, mais importante, teria compreensão dos problemas de todos os campi. Talvez seja um processo complexo de se materializar, pois dependerá da vontade e compreensão dos alunos de SA (que afinal são o fiel da balança quando se trata de DCE).

O DA de SBC

Neste caso eu estou falando sim da gestão atual.
Falhamos em diversos aspectos. Muitos desses aspectos têm a ver com criar uma entidade do zero, com uma gestão composta po alunos que não estavam ligados a nenhum “grupo estudantil profissional”, por um campus em que, por falta de equipamento, muitos alunos assistem aula e voltam para casa, reproduzindo um comportamento do ensino médio e não se envolvendo com o que deveria ser a vida universitária.
A meu ver a principal função do DA, nesta primeira gestão, era afirmar SBC como parte da UFABC, era melhorar a auto-estima dos alunos (que muitas vezes eram tratados como seres irrelevantes por seus pares de SA) e principalmente ser um ponto de diálogo com a Universidade, que antes só enxergava a representação de SA como legítima.
As festas promovidas faziam parte desta estratégia, tendo sempre como norte que não eram festas para dar lucro, mas festas para afirmar a identidade de SBC. Os eventos de extensão e o apoio aos grupos já organizados também, porém com a ressalva que limitações financeiras e organizacionais nem sempre nos permitiram chegar onde desejávamos.
Quero ressaltar que embora não tenhamos tido condições de apoiar a todos os grupos e alunos que tinha projetos, NUNCA boicotamos ou fomos contra NENHUM projeto. Reconheço nossa incompetência em diversos aspectos, principalmente logístico e organizacional, mas não aceitarei as acusações feitas pelo discente Thiago Leite, que até hoje carecem de prova, de que a gestão Raiz tentou boicotar o seu projeto de cursos de idiomas. Não aceito terminar minha gestão com esta acusação leviana, feita de forma irresponsável em redes sociais, e tenho certeza de que nenhum membro da gestão Raiz jamais faria nada para prejudicar qualquer projeto de extensão, fosse de quem fosse (ao contrário, membros da gestão estavam entre os muitos que participaram como alunos de tal ação, que ressalvada seu uso político irresponsável foi uma ótima iniciativa).
Dito isso…
É preciso que este trabalho continue, é preciso que os alunos de SBC tomem para si o DA e o solidifique. Neste momento, último terço da gestão atual, a Raiz se dividiu em diversas direções, alguns desistiram, outros se desmobilizaram, outros se envolveram com os “grupos estudantis profissionalizados”, e alguns outros mantém o espírito de independência e ação, cito nominalmente a nova presidenta Beatriz Soares como exemplo deste último grupo. Porém é preciso agora construir a sucessão desta gestão (por membros da gestão atual, por outros grupos, o certo é que a Raiz não concorrerá à reeleição), iniciar o processo eleitoral do DA e garantir que a representação dos alunos de SBC esteja cada vez mais forte e presente nas questões da universidade.

Por hora me ausentarei das questões políticas da universidade, mas tenho certeza que temos pessoas capazes tanto em SA quanto em SBC para trabalharem pelo corpo discente de nossa universidade e, quem sabe, construir a representação estudantil do século XXI.

--------------------------------------------------------------------

CARTA DE RENÚNCIA

Aos associados, secretários e diretores do Diretório Acadêmico Sigma da Universidade Federal do ABC campus São Bernardo do Campo.
 Prezados,
 Venho através desta comunicação, em caráter irrevogável, comunicar a minha renúncia ao cargo de Presidente do Diretório Acadêmico Sigma.
Tal decisão foi tomada após longo período de reflexão e se dá fundamentalmente em razão da nova responsabilidade que terei dentro de alguns dias com o nascimento de meu filho Davi.
Conforme estatuto do Diretório Acadêmico Sigma, a Diretora de Integração Beatriz Soares assume imediatamente as funções antes sob minha responsabilidade.
Agradeço ao apoio de todos os associados, professores, funcionários, secretários e diretores durante estes 8 meses em que estive a frente deste DA.

Atenciosamente,
Johnny Seron Bispo
São Bernardo do Campo
12 de agosto de 2012

0 comentários: